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Ana Fraga
Ana Fraga - retrato

Ana Fraga é artista natural e residente em São Félix, Bahia, trabalha com performance artística e instalação, já participou de exposições em várias cidades baianas e em Recife, Pernambuco e angariou prêmios em certames da Bahia. É Licenciada em Desenho e Plástica pela Universidade Federal da Bahia, em 2003, e desde 2012 é mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia. Desenvolve e coordena projetos com ênfase em artes visuais e possui experiência na área de arte-educação, atuando também em oficinas e gestão.

Ana Fraga. Rio de tudo isso, 2008. Performance. Foto: Otaviano Filho.
Prêmio Fundação Cultural do Estado da Bahia, no Salão Regional de Artes Visuais da Bahia 2008, realizado em Vitória da Conquista, no Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima. A performance consistia em crochetar uma colcha e, em determinado momento, desfazê-la ponto a ponto
Ana Fraga. Enciclopédico, 2009. Instalação, 30 x 140 x 80 cm. Foto: Otaviano Filho.
Obra premiada no Salão Regional de Artes Visuais da Bahia 2009, em Porto Seguro, se constituía de uma prateleira de madeira pintada de branco e um livro de capa dura, encadernado, e cujas folhas são repletas de impressões digitais e símbolos gráficos de pessoas não alfabetizadas, subvertendo assim a via de acesso para o saber, que normalmente se dá por meio da palavra escrita
Ana Fraga. Escombros, 2013. Performance. Foto: Eduardo Oliveira
Ana Fraga. Escombros, 2013. Performance. Foto: Eduardo Oliveira
Ana Fraga. Escombros série I, 2013. Instalação. Foto: Ana Fraga
Ana Fraga. Escombros série II, 2013. Performance. Foto: Tatiele Souza
Ana Fraga. Escombros série II, 2013. Performance. Foto: Tatiele Souza
Ana Fraga. Escombros itinerante, 2013. Performance. Foto: Otaviano Filho
Ana Fraga. Escombros itinerante, 2013. Performance. Foto: Marcio Santana e Darlan Dhouro
Ana Fraga. Nós, 2013. Instalação. Foto: Ana Fraga
Ana Fraga. Rio de tudo isso, 2008. Performance. Foto: Otaviano Filho.
Prêmio Fundação Cultural do Estado da Bahia, no Salão Regional de Artes Visuais da Bahia 2008, realizado em Vitória da Conquista, no Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima. A performance consistia em crochetar uma colcha e, em determinado momento, desfazê-la ponto a ponto
Ana Fraga. Enciclopédico, 2009. Instalação, 30 x 140 x 80 cm. Foto: Otaviano Filho.
Obra premiada no Salão Regional de Artes Visuais da Bahia 2009, em Porto Seguro, se constituía de uma prateleira de madeira pintada de branco e um livro de capa dura, encadernado, e cujas folhas são repletas de impressões digitais e símbolos gráficos de pessoas não alfabetizadas, subvertendo assim a via de acesso para o saber, que normalmente se dá por meio da palavra escrita
Ana Fraga. Escombros, 2013. Performance. Foto: Eduardo Oliveira
Ana Fraga. Escombros, 2013. Performance. Foto: Eduardo Oliveira
Ana Fraga. Escombros série I, 2013. Instalação. Foto: Ana Fraga
Ana Fraga. Escombros série II, 2013. Performance. Foto: Tatiele Souza
Ana Fraga. Escombros série II, 2013. Performance. Foto: Tatiele Souza
Ana Fraga. Escombros itinerante, 2013. Performance. Foto: Otaviano Filho
Ana Fraga. Escombros itinerante, 2013. Performance. Foto: Marcio Santana e Darlan Dhouro
Ana Fraga. Nós, 2013. Instalação. Foto: Ana Fraga
Referências
Bibliográficas:

FRAGA, Ana Maria da Silva. In: FUNDAÇÃO CULTURAL DO ESTADO DA BAHIA. Salões regionais de artes visuais da Bahia 2007-2008. Salvador: Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, [2009a]. p. 78-79.

______. In: INSTITUTO DO PATRIMÔNIO ARTISTICO E CULTURAL. Décimo quinto salão do MAM-BA. Salvador: Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, 2009b. Catálogo de exposição. p. 144 e 149.

______. In: FUNDAÇÃO CULTURAL DO ESTADO DA BAHIA. Salões regionais de artes visuais da Bahia 2009-2010. Salvador: Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, [2011]. p. 60-61.

FREIRE, Cristina. Fotografia: performances. In:______. Poéticas do processo: arte conceitual no museu. São Paulo: Iluminuras; Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, 1999. p. 103-114.

MIDLEJ, Dilson. Salões regionais: celebração da diversidade. In: INSTITUTO DO PATRIMÔNIO ARTISTICO E CULTURAL. Décimo quinto salão do MAM-BA. Salvador: Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, 2009. Catálogo de exposição. p. 144 – 151.

______. Escombros de todo nós. In: Arte & Ensaios: de peito aberto. Rio de Janeiro: Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, jun. 2014. semestral, n. 27. p. 42-46.

RANGEL, Sonia. Ponto linha e corpo em Escombros. Texto curatorial da exposição Escombros. Galeria Cañizares, Salvador, 2013. Não publicado.

 

Bibliografia sobre a artista:

Livros e catálagos:

MIDLEJ, Dilson. Crítica visual e plasticidade nos salões regionais. In: FUNDAÇÃO CULTURAL DO ESTADO DA BAHIA. Salões regionais de artes visuais da Bahia 2009-2010. Salvador: Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, [2011].p. 15-19.

MARTINS, M. V. G.; FRAGA, Ana Maria da Silva. Casa 401: deslocamentos e memórias. In: Anais do 14º Encontro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas. Goiânia: ANPAP, 2005. p. 271-208.

MUÑOZ, Alejandra. Obras expostas, olhares propostos: os salões regionais de artes visuais da Bahia em 2007 e 2008. In: FUNDAÇÃO CULTURAL DO ESTADO DA BAHIA. Salões regionais de artes visuais da Bahia 2007-2008. Salvador: Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, [2009]. p. 15-18.

Periódicos:

FERNANDES, Pedro; HERÁCLITO, Ayrson; MUÑOZ, Alejandra; FRAGA, Ana Maria da Silva. Cinco Mulheres. A Tarde, Caderno 2, Salvador, p. 1 - 5, 09 set. 2009.

Ana Maria da Silva Fraga (São Félix, BA - 25 de novembro de 1974).

Retrato:

 Ana Fraga - retrato

Foto: Otaviano Filho

 

Formação:

1999 a 2003 – Graduação em Licenciatura em Desenho e Plástica. Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia – Ufba.

2001 – Extensão universitária em suportes e base de preparação. Universidade Federal da Bahia.

2001 – Mobiliário brasileiro na Bahia. Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia – Ufba.

2002 – Metodologia da pesquisa em artes visuais. Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia – Ufba.

2002 – Higienização e catalogação de acervo. Universidade Federal da Bahia – Ufba.

2002 a 2004 – Teoria freudiana. Associação de Psicanálise da Bahia.

2004 – Curso preparatório de monitoria. Museu Carlos Costa Pinto.

2004 – A Imagem do corpo e o corpo da imagem. Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia – Ufba.

2006 – Quatro conceitos para se pensar a arte e sua história. Centro Cultural Dannemann. São Félix.

2008 – Comunicação e critica cultural. Universidade Federal da Bahia – Ufba.

2008 a 2009 – Extensão universitária em gestão cultural. Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB.

2009 – Oficinas estratégias Susten para produção cultural. Instituto do Patrimônio Histórico da Bahia.

2012 à presente data – Mestrado em processo criativo, com a pesquisa “Escombros,  processos poéticos em performance-instalação”, sob orientação da Profa. Dra. Sônia Lúcia Rangel. Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia – PPGAV EBA Ufba.

 

Período de atividade:

2001 à presente data.

 

Principais especialidades:

Performer, arte-educadora.

 

Outras atividades:

Gestora cultural.

 

Assinatura:

Ana Fraga - assinatura

 

Dados biográficos:

Ana Fraga (Ana Maria da Silva Fraga) nasceu em 25/11/1974, em São Félix, cidade às margens do rio Paraguaçu e vizinha à Cachoeira, no Recôncavo baiano, filha de Dominga Ferreira, nascida em Marcionílio Souza, dona de casa, porém falecida em 2008, e de Walter da Silva Fraga, natural de São Félix, comerciante, os quais constituíram família de oito filhos, sendo Ana Fraga a caçula.

O escritor colombiano Gabriel García Márquez foi o autor do primeiro romance lido por ela, um livro com mais de 150 páginas, um castigo imposto por um dos irmãos e que se transformou numa paixão, advindo, posteriormente leituras de obras de Jorge Luis Borges, Graciliano Ramos, Lygia Fagundes Telles e Virginia Woolf, dentre outros. Dentre os artistas visuais, admira os brasileiros Marepe, Márcia X, Rogéria Maciel e a artista performática sérvia Marina Abramovic.

Ana Fraga residiu em Salvador por cinco anos, mas retornou a São Félix para cuidar da mãe e, aos poucos, foi percebendo o quanto se sentia à vontade para criar, estimulada pela envolvência da cidade e convívio com as pessoas.

Performer de trajetória coerente e sólida, Ana Fraga destacou-se com várias premiações em certames competitivos estaduais, sempre apresentando obras que aliavam a performance às tradições culturais de sua região de nascença e a sua condição e sensibilidade femininas. (MIDLEJ, 2014).

Ana Fraga sempre se interessou pelo fortalecimento cultural e artístico de São Félix, razão pela qual desenvolve vários iniciativas na cidade e atuações profissionais, a exemplo do Instituto do Recôncavo, entre 2004 e 2005, com elaboração de projetos para captação de recursos em nível municipal para desenvolvimento de atividades artísticas e culturais, instituição em São Félix na qual atuou na diretoria administrativa e na vice-presidência. Lá concebeu e desenvolveu o projeto Um olhar sobre a cidade, uma pesquisa de imagens históricas de São Félix, selecionadas e restauradas digitalmente, e exibidas ao lado de fotografias atuais dos mesmos espaços, compondo a exposição A cidade em preto e branco.

É neste cenário que atuou no desenvolvimento de material didático em 2007, por ocasião da oficina Conceitos de arte, e disponibilizado pela Secretaria Municipal de Educação em todas as escolas municipais de São Félix, bem como produziu conteúdo didático sobre arte em 2008. Em 2009 ministrou Oficina de criação e, dois anos depois, concebeu novo material didático. Em ambos foram impressas apostilas e conteúdo em pdf e destinaram-se a capacitar os professores da Escola municipal dr. Arlindo Rodrigues sobre conceitos e práticas artísticas para o ensino da arte. Assim, as oficinas abrangiam crianças, jovens e adultos e eram realizadas em seu ateliê ou em ações organizadas em espaços da cidade.

Nos anos de 2006 e 2007 destacou-se com premiações angariadas como a Menção Especial na VIII Bienal do Recôncavo, promovida pelo Centro Cultural Dannemann, em São Félix, e o Prêmio Matilde Matos em 2007, iniciativa da Fundação Cultural do Estado da Bahia, em Salvador, na forma de seleção por meio de um edital de apoio à montagem de exposições que previa contemplar cinco projetos.

Em 2008 voltaria a obter outro Prêmio Matilde Matos, com o projeto Tombado e com recursos superiores ao do ano anterior (em 2007 foi disponibilizado R$ 6 mil por exposição e, em 2008, R$ 20 mil). Ana Fraga recebeu, também, o Prêmio Fundação Cultural do Estado da Bahia, no Salão Regional de Artes Visuais da Bahia 2008, realizado em Vitória da Conquista, no Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima, onde apresentou a performance Rio de tudo isso, trabalho que consistia em crochetar uma colcha e, em determinado momento, desfazê-la ponto a ponto. A artista comenta:

 

[...] para o Salão Regional construí uma espécie de colcha de crochê que continuaria a ser crescida no dia da abertura da exposição. O crochê é um tipo de renda ainda muito utilizado por mulheres da minha região. Quando vou rendando construo de maneira contínua, muitas vezes séria na junção dos pontos, outras vezes descuidando na contagem que se perde. Ao laçar a linha vou catando na memória cenas da minha infância, quando as mulheres formavam rodas para crochetar. (FRAGA, 2009, p. 78).

 

Acerca do processo do desmanche da colcha, acrescenta: “A partir desse instante, iniciei a performance, puxando o fio, desfazendo a colcha ponto a ponto. O que importa é a sobra, a linha enrugada, os escombros, a trama desfeita… A linha solta sinaliza o início do fim, é por ela que tanto eu, como o espectador percorremos o sentido inverso”. (FRAGA, [2009a], p. 78).

A cadeira, o novelo de linha e a colcha parcialmente tecida e com trechos desfeitos provenientes da performance foram expostas durante o período do Salão Regional e, de 19 de dezembro de 2008 a 1 de março de 2009, integrou o Décimo quinto salão da Bahia, promovido pelo Museu de Arte Moderna da Bahia, no espaço da Galeria Solar do Ferrão, no Pelourinho (FRAGA, 2009b, p. 144 e 149) e que reunia as obras premiadas nas três edições dos Salões Regionais 2008 ocorridos em Alagoinhas, Vitória da Conquista e Itabuna (MIDLEJ, 2009, p. 147). “Obviamente, do ponto de vista da recepção do público, ver a fotografia ou o vídeo de uma performance é muito diferente de presenciá-la, testemunhar diretamente sua existência”, alerta-nos Cristina Freire (1999, p. 104), ressaltando e justificando esta afirmação como “[...] para quem vê a fotografia de uma performance, a aquisição da imagem se dá como informação e não como experiência” (FREIRE, 1999, p. 104), o que se aplica ao nosso caso, não por se tratar de fotografia ou vídeo, mas por serem exibidos os objetos mesmos utilizados na performance.

Uma nova premiação destacará a instalação Enciclopédico, no Salão Regional de Artes Visuais da Bahia 2009, no Centro de Cultura de Porto Seguro, em Porto Seguro, constituída por uma prateleira de madeira pintada de branco com um rebaixamento na parte central, no qual acondiciona um livro de capa dura e encadernado, como convém a uma enciclopédia ou a um atlas, e cujas folhas são repletas de impressões digitais e símbolos gráficos de pessoas não alfabetizadas, símbolos os quais são muitas vezes corrompidos por palavras sem significação clara, subvertendo assim a via de acesso para o saber, que normalmente se dá por meio da palavra escrita. Assim comentou a artista:

 

A intenção é de fazer vacilar a questão do saber e do discurso convincente deste, contrapondo um outro codificado em impressões digitais e símbolos soltos feitos por quem não teve uma educação escolar formal. Busca-se expor a maneira de sobrevivência dessas pessoas e sua tentativa de se ajustar ao mundo, criando suas próprias balizas para transitar em símbolos que não podem decodificar. (FRAGA, [2011], p. 60).

 

Atualmente a artista é mestranda em processo criativo pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia – PPGAV EBA Ufba, em Salvador, porém, já prestes a concluir com a defesa pública de sua dissertação. Inicialmente Ana Fraga concebeu seu projeto de pesquisa com o título Uma poética visual sobre o espaço frágil, irônico e transitório, o qual, mediante observação e reflexão sobre seus trabalhos, buscou entender os princípios de fragilidade, transitoriedade, finitude e ironia envolvidos neles. Depois, lapidou o tema e chegou ao título Escombros, processos poéticos em performance-instalação, mais adequado à investigação desenvolvida. Apresentou, inclusive, a comunicação Escombros no IX Colóquio franco-brasileiro de estética: imagem e corpo performativo, em 2012, em Salvador.

Origina-se daí o título Escombros escolhido pela artista para sua individual em 2013 na Galeria Cañizares, da Escola de Belas Artes da Ufba, o qual não poderia ser mais adequado, pois o conjunto de obras ali apresentado fala da degradação sensível do ser, das tensões entre sua existência e inadequações aos papéis sociais infligidos pela sociedade e pelos poderes constituídos, tais como a conveniente manipulação política de uma alegada “alegria baiana”, ou de um selo de “baianidade”, do qual a pasteurização e generalização do carnaval como imposição de comportamentos seria a mola mestra. (MIDLEJ, 2014, p. 42).

Essa alegada “alegria” que se poderia associar ao carnaval é um dos assuntos comentados visual e conceitualmente nesta exposição. Nas palavras da artista e curadora da mostra, Sonia Rangel (2013, não paginado), a alegria da festa carnavalesca é “muitas vezes vendida sobre a exposição do corpo feminino subjugado e feito objeto para o olhar do outro”.

Na performance Escombros, apresentada pela artista, registrada em vídeo, com exibição dos resquícios da ação no ambiente da galeria, a realidade foi antropofágica e literalmente engolida, e a síntese desse bolo alimentar era confetes. A artista “engole” confetes e os regurgita em incômoda cena cujo vômito refluxa junto a nossa indignidade. Os confetes são confeccionados no espaço da galeria, diante do público e essa nova natureza dos confetes feitos a partir das folhas do diário da artista (da intimidade dos registros e comentários cotidianos dela, portanto), é reformulada artisticamente e evidencia uma situação de que o diário não seria apenas dela e sim de todos nós. Por conseguinte, a ação contínua do engolir e do vomitar e o engasgo de confetes também seria de todos nós, incomoda metáfora da insatisfação humana. Percebemos, então, que a artista não trata de questões pessoais e sim de anseios existenciais comuns ao ser humano, de questionamentos a imposições de condutas sociais, de tristezas inconfessas e cicatrizes profundas que não aparecem na mídia. O hedonismo do carnaval em Ana Fraga é interpretado pelo viés do mal-estar, do corpo que faz pular para fora um multicor vômito de minúsculos confetes das folhas de seu diário, diário este reestruturado em nova e fragmentada existência que dá voz, ou melhor, dá visibilidade às angustias existenciais. Uma poética do desassossego em que não se vê o rumo da bala, mas se sabe a quem ela se destina e onde certeiramente atinge. (MIDLEJ, 2014, p. 43).

Advém das tradições culturais de sua região de nascença e de sua condição feminina a escolha dos materiais que trabalha. Assim, são recorrentes em suas performances o diário, a linha e a tesoura em bordados e costuras −, evidenciando o contraste dessa memória afetiva com os escombros cotidianos e contemporâneos. Assim, a sensibilidade migra dos registros de diários íntimos e se traveste da forçada “alegria” aludida pelos confetes engolidos e regurgitados, subvertendo o sentido do uso festivo daquele material e que constituiu tanto a performance Escombros mencionada, quanto a obra Escombros série I. Esta última concentra confetes hermeticamente lacrados em caixas de vidro de variadas dimensões e dispostas no chão, enquanto na parede três martelos pendurados indicam a ação e o esforço necessários para se experimentar a alegria aludida pelos confetes ao custo do uso da força pelo golpear do martelo e do risco do corte pelos cacos dos vidros fragmentados. Uma explosão de suposta alegria se anuncia ao custo de um risco real de esforço e dor. (MIDLEJ, 2014, p. 44).

Já a linha vai gerar ações registradas em fotografias que compõem as obras Escombros nós itinerante e que consistem na confecção de mais de dois milhões de nós feitos manualmente pela artista de janeiro de 2012 a fevereiro de 2014, ora com a artista e um rolo de turbante a bordo de uma canoa à deriva, a qual desliza indecisa pelas águas do rio Paraguaçu que banha sua cidade natal, ao sabor da correnteza, ora sentada no minadouro d’água da nascente daquele rio, na região de Barra da Estiva. Os nós dessas ações são finalmente depositados na sala da galeria, espécie de escultura/registro da tradição e do sofrimento cotidiano “amarrados” e ensimesmados que, tal como os confetes, têm seu significado subvertido uma vez que o bordado gerado resulta em um monte de nós sem utilidade prática, mas impregnado pela via artística de peso existencial e de sentidos. (MIDLEJ, 2014, p. 44-45).

E por fim, a tesoura, instrumento do cortar tecidos e do costurar, é utilizada pela artista para “extrair” flores de uma camada de tecido estampado que cuidadosamente reveste seu colo na performance Escombros II. A intimidade às avessas do ato da costura da artista sentada em um pequeno banco em espaço público (na ponte D. Pedro II, que une São Félix a Cachoeira) é contaminada pelo frequente passar da população que, curiosa, ou ignora a ambiência intimista da ação ou responde de alguma maneira, como ilustra o fato de algumas pessoas apanharem as “flores” caídas no chão. Os buracos abertos no tecido anunciam a operação cirúrgica e esvaziam a padronagem decorativa do tecido, adicionando eloquentes e incômodos espaços vazios e o significativo rolar ao chão das “flores”. Espécie de colheita cirúrgica de espaços vazios, a ação discorre sobre inversões de valores, escombros da perda de poesia e de sentidos. (MIDLEJ, 2014, p. 45). Enfim, ao mesmo tempo silenciosa e alarmadamente, as flores perdem seus significados e somem ao sabor do vento.

A familiaridade do público sanfelista em relação aos objetos cotidianos utilizados por Ana Fraga e seus consequentes usos subvertidos pode favorecer um viés de possibilidades de leituras e mesmo a participação, involuntária (assistindo à ação ou esgueirando-se para passar pelo corredor de pedestres da ponte obstruída pela artista) ou participativa (colhendo “flores” recortadas no chão). Ao mesmo tempo em que cria conformidades, extensões e desdobramentos do trabalho performático, também indica a vitalidade dessa forma de expressão e reforça que é com a participação do outro que se completa e atinge sua significação plena, sem necessariamente passar por uma formulação racional de juízo de valor. (MIDLEJ, 2014, p. 46).

A experiência como uma artista atuante na cidade e o conhecimento adquirido na capacitação em mestrado possibilitou a Ana Fraga participar de algumas bancas de avaliação de Trabalho de Conclusão de Curso de alguns estudantes da graduação do curso Bacharelado em Artes Visuais do Centro de Artes, Humanidades e Letras da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, cuja sede é Cachoeira, cidade vizinha de São Félix. Assim, contribuiu com comentários para as monografias de  Tatiele de Souza Santos (Espaços de produção e veiculação das artes visuais: um estudo nas cidades de Cachoeira e São Félix), de Darlan do Ouro Costa (Autoreflexões: artista e observador na construção da presença na autoimagem) e de Josiara Oliveira de Souza (Aparências, sombras, projeções e autoimagem), as três defesas públicas ocorridas na primeira semana de abril de 2014.

A dinamização da presença dos cursos da UFRB na cidade de Cachoeira e, em particular, o de Artes Visuais, também tem favorecido constantes investigações pelos discentes em relação à produção artística da região, a exemplo da própria Ana Fraga que teve sua obra investigada e comentada pelo estudante Túlio Soares Magalhães no dia 1 de abril de 2014, dentro do seminário de extensão Diálogos de sentido e forma, idealizado e coordenado pelo prof. Dilson Midlej.

 

Mostras individuais:

2008 – São Félix, BA – Bonecas # 2 uma roupa. Prêmio Matilde Matos. Centro Cultural Dannemann.

2013 – Salvador, BA – Escombros, na Galeria Cañizares.

 

Participações em Salões, Bienais e coletivas:

2001 – Salvador, BA – Âmago. Apresentação de instalação na Casa do Benin.

2002 – Salvador, BA – Cada um, um olhar. Apresentação de pintura-instalação na Casa de Angola.

2003 – Salvador, BA – O livro. Apresentação de objeto no Centro de Memória dos Correios.

2004 – Salvador, BA – O tecido do corpo social. Apresentação de instalação e objeto no Instituto Feminino. Artista convidada.

2005 – São Félix, BA – A cidade em preto e branco, na Praça da Bandeira.

2005 – Salvador, BA – Casa 401. Apresentação de performance e instalação, na Galeria Aliança Francesa.

2005 – Salvador, BA – Afetos roubados no tempo. Mostra itinerante no Goethe Institut – Icba.

2006 – Recife, PE – Afetos roubados no tempo. Mostra itinerante na Galeria Capibaribe.

2006 – São Félix, BA – Vista-se não vista-se. Apresentação de instalação e performance na III Bienal do Recôncavo, no Centro Cultural Dannemann.

2007- Cruz das Almas, BA – Dedo de moça. Apresentação de objeto no Centro de Cultura.

2008 – Vitória da Conquista, BA – Rio de tudo isso. Apresentação de performance e  instalação no Salão Regional de Artes Visuais da Bahia 2008, no Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima. Prêmio Fundação Cultural do Estado da Bahia.

2008 – São Félix, BA – Espaços concisos, série ar. Apresentação de instalação, performance e intervenção urbana na XIX Bienal do Recôncavo, no Centro Cultural Dannemann.

2009 – Porto Seguro, BA – Enciclopédico. Apresentação de instalação no Salão Regional de Artes Visuais da Bahia 2009, no Centro de Cultura de Porto Seguro. Prêmio Fundação Cultural do Estado da Bahia.

2010 – São Félix, BA – Sem título mesmo até que sobrevenha o dia sonhado. Apresentação de objeto na X Bienal do Recôncavo. Centro Cultural Dannemann.

2010 – Salvador, BA –  Exposição do19º Encontro Nacional da ANPAP, na Galeria Cañizares.

2011 – Salvador, BA – Pausa. Intervenção artística no Instituto Feminino.

2011 – Salvador, BA – Pausa 2. Apresentação de instalação no Projeto Visio.com, no Goethe Institut – Icba.

2012 – Salvador, BA – Paraconsistentes: 25 artistas contemporâneos na Bahia. Apresentação de performance, no Goethe Institut – Icba.

 

Premiações:

2006 – São Félix, BA – Menção Especial na VIII Bienal do Recôncavo. Centro Cultural Dannemann.

2007 – Salvador, BA – Prêmio Matilde Matos. Promoção Fundação Cultural do Estado da Bahia.

2008 – Salvador, BA – Prêmio Matilde Matos. Promoção Fundação Cultural do Estado da Bahia.

2008 – Vitória da Conquista, BA – Prêmio Fundação Cultural do Estado da Bahia. Salão Regional de Artes Visuais da Bahia 2008, no Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima. Promoção Fundação Cultural do Estado da Bahia.

2009 – Porto Seguro, BA – Prêmio Fundação Cultural do Estado da Bahia. Salão Regional de Artes Visuais da Bahia 2009, no Centro de Cultura de Porto Seguro. Promoção Fundação Cultural do Estado da Bahia.

Referências
Bibliográficas:

FRAGA, Ana Maria da Silva. In: FUNDAÇÃO CULTURAL DO ESTADO DA BAHIA. Salões regionais de artes visuais da Bahia 2007-2008. Salvador: Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, [2009a]. p. 78-79.

______. In: INSTITUTO DO PATRIMÔNIO ARTISTICO E CULTURAL. Décimo quinto salão do MAM-BA. Salvador: Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, 2009b. Catálogo de exposição. p. 144 e 149.

______. In: FUNDAÇÃO CULTURAL DO ESTADO DA BAHIA. Salões regionais de artes visuais da Bahia 2009-2010. Salvador: Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, [2011]. p. 60-61.

FREIRE, Cristina. Fotografia: performances. In:______. Poéticas do processo: arte conceitual no museu. São Paulo: Iluminuras; Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, 1999. p. 103-114.

MIDLEJ, Dilson. Salões regionais: celebração da diversidade. In: INSTITUTO DO PATRIMÔNIO ARTISTICO E CULTURAL. Décimo quinto salão do MAM-BA. Salvador: Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, 2009. Catálogo de exposição. p. 144 – 151.

______. Escombros de todo nós. In: Arte & Ensaios: de peito aberto. Rio de Janeiro: Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, jun. 2014. semestral, n. 27. p. 42-46.

RANGEL, Sonia. Ponto linha e corpo em Escombros. Texto curatorial da exposição Escombros. Galeria Cañizares, Salvador, 2013. Não publicado.

 

Bibliografia sobre a artista:

Livros e catálagos:

MIDLEJ, Dilson. Crítica visual e plasticidade nos salões regionais. In: FUNDAÇÃO CULTURAL DO ESTADO DA BAHIA. Salões regionais de artes visuais da Bahia 2009-2010. Salvador: Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, [2011].p. 15-19.

MARTINS, M. V. G.; FRAGA, Ana Maria da Silva. Casa 401: deslocamentos e memórias. In: Anais do 14º Encontro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas. Goiânia: ANPAP, 2005. p. 271-208.

MUÑOZ, Alejandra. Obras expostas, olhares propostos: os salões regionais de artes visuais da Bahia em 2007 e 2008. In: FUNDAÇÃO CULTURAL DO ESTADO DA BAHIA. Salões regionais de artes visuais da Bahia 2007-2008. Salvador: Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, [2009]. p. 15-18.

Periódicos:

FERNANDES, Pedro; HERÁCLITO, Ayrson; MUÑOZ, Alejandra; FRAGA, Ana Maria da Silva. Cinco Mulheres. A Tarde, Caderno 2, Salvador, p. 1 - 5, 09 set. 2009.
Autoria

Autores(as) do verbete:

Dilson Midlej

Data de inclusão:

20/04/2014

D536

Dicionário Manuel Querino de arte na Bahia / Org. Luiz Alberto Ribeiro Freire, Maria Hermínia Oliveira Hernandez. – Salvador: EBA-UFBA, CAHL-UFRB, 2014.

Acesso através de http: www.dicionario.belasartes.ufba.br
ISBN 978-85-8292-018-3

1. Artes – dicionário. 2. Manuel Querino. I. Freire, Luiz Alberto Ribeiro. II. Hernandez, Maria Hermínia Olivera. III. Universidade Federal da Bahia. III. Título

CDU 7.046.3(038)

 

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